A obesidade é uma doença multifactorial que raramente se limita isoladamente a fatores genéticos, hábitos alimentares ou a um estilo de vida sedentário. Os nossos comportamentos resultam da forma como pensamos e nos sentimos, como por exemplo: sentimentos de tristeza, ansiedade ou stress podem aumentar a necessidade de ingerir mais alimentos do que o habitual ou alimentos mais ricos em gordura e açúcar. Somos culturalmente programados para procurar conforto e amor nos alimentos. Contudo, esta forma de lidar com os nossos sentimentos pode levar a vários problemas de saúde a longo prazo.
Os estudos demonstram que muitos casos de obesidade podem resultar de problemas mentais como a depressão, ansiedade, stress pós-traumático e compulsão alimentar.
Depressão
Existe uma relação bidirecional entre a obesidade e a depressão, ou seja, a depressão aumenta o risco de obesidade, assim como a obesidade aumenta o risco de depressão. O aumento do apetite e a diminuição da atividade física são sintomas muito comuns da depressão que podem levar ao aumento de peso e consequente obesidade.
As mulheres são particularmente mais vulneráveis do que os homens a este ciclo de obesidade-depressão. Num estudo, a obesidade em mulheres foi associada a um aumento de 37% da depressão. Existe também uma forte correlação entre mulheres com um IMC elevado e pensamentos suicidas mais frequentes.
É relativamente comum as pessoas apresentarem dificuldade em recuperar de eventos repentinos ou emocionalmente desgastantes (por exemplo: perda de um amigo ou familiar, dificuldades no relacionamento, perda do emprego ou enfrentar um problema de saúde grave) e refugiarem-se na comida e terem menor motivação para praticar exercício físico.
Transtorno de Stress Pós-Traumático (PTSD)
Este transtorno desenvolve-se após um evento traumático em que a pessoa seja exposta a uma ameaça de morte, ferimentos graves ou violência sexual. Num estudo recente realizado em pessoas com PTSD mostrou-se a prevalência de obesidade em 60% das mulheres e em 30% dos homens, sendo este transtorno a causa identificada para o desenvolvimento da obesidade. A explicação apontada para a ligação entre a obesidade e o PTSD deve-se à utilização da comida como fonte de prazer para lidar com o trauma, criando assim um ciclo vicioso de recompensa após a ingestão de alimentos e bebidas não saudáveis.
Transtorno de Compulsão Alimentar (Binge Eating)
O transtorno de compulsão alimentar é caracterizado pela ingestão descontrolada de grandes quantidades de comida sem a presença de comportamentos compensatórios (vómitos ou laxantes).
A compulsão alimentar para além de ser um comportamento associado à obesidade é também um sintoma de depressão. Aproximadamente 30% das pessoas que procuram tratamento para a obesidade apresentam critérios de diagnóstico deste transtorno. Um estudo realizado em pessoas com obesidade e compulsão alimentar constatou que 51% também apresentavam histórico de depressão.
Ansiedade e Stress
A ansiedade e o stress a longo prazo podem ter diversas consequências negativas para a saúde, entre estas está o aumento de peso. O stress e a ansiedade constante aumentam o cortisol, a hormona do stress, que aumenta o apetite, resistência à insulina e a tendência a acumular gordura na zona abdominal. É comum nas pessoas que sofrem de ansiedade procurarem relaxar através da comida, tendo uma especial apetência para alimentos ricos em hidratos de carbono e açúcar. A ansiedade e o stress crónico aumentam também o risco de desenvolver depressão.
As pessoas que sofrem de depressão, ansiedade e outros problemas mentais têm mais probabilidade de aumentar de peso e desenvolverem obesidade ao longo dos anos.
Tratamento
Quando a obesidade é acompanhada por algum problema mental é essencial que este problema seja reconhecido como uma potencial causa e abordado no tratamento da obesidade. O tratamento deve ser realizado por uma equipa multidisciplinar e devem ser prescritas alterações no estilo de vida que visem um maior controlo do estado emocional.
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